quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Maria Mãe de Deus

No dia 30 de dezembro, meu grande amigo Júlio Severo publicou um artigo em que conclamava os católicos a protestar contra a Folha de São Paulo pelo erro histórico de tê-la apresentada como palestina em vez de judia:
"E onde estão os católicos, que veem Maria como mãe de Deus? Não há evidência de que Maria tenha gerado Deus desde a eternidade,  mas há uma segurança de 100 por cento de que Maria era judia..."
De fato, Maria não gerou Deus desde toda a eternidade. Aliás, nunca ouvi um católico afirmar isso. Mas o título de Mãe de Deus é facilmente demonstrável a partir de argumentos bíblicos.
Maria é mãe de Jesus (cf. Lc 1,31)
Jesus é Deus (cf. Jo 20,28)
Logo, Maria é Mãe de Deus.
Jesus é uma única Pessoa (divina) com duas naturezas: a divina (divindade) e a humana (humanidade).
Ela recebeu sua natureza divina do Pai. Ela foi gerado pelo Pai desde toda a eternidade ("antes de todos os séculos").
Quando Ele se fez homem, sem deixar de ser Deus, recebeu de Maria a natureza humana.

Este é uma mistério que assombra aos anjos: uma criatura (Maria) comunica sua natureza (humana) ao Criador (Jesus).

Alguém poderia objetar que Maria não gerou a divindade de Jesus. Logo, embora ela possa ser chamada mãe de Jesus, não poderia ser chamada Mãe de Deus.

Mas a objeção não procede. Vejamos.


  1. Em Anápolis temos um prefeito chamado Antônio, cuja mãe se chama Anita. Seria correto alguém dizer: "Sra. Anita é mãe do Antônio, mas não é mãe do prefeito, pois ela não gerou a prefeitura"?
  2. O jogador de futebol Edson Arantes do Nascimento (Pelé) teve uma mãe chamada Celeste. Seria correto alguém dizer: "Sra. Celeste é mãe do Eson, mas não é mãe do jogador, pois ela não gerou o futebol"?
  3. Minha mãe chama-se Maria Teresa. Seria correto alguém dizer: "Sra. Maria Teresa é mãe do Luiz Carlos, mas não é mãe do padre, porque ela não gerou o sacerdócio"?

A mãe não gera uma profissão, uma qualidade, um cargo ou uma natureza. A mãe gera uma pessoa.  Se essa pessoa é prefeito, tal mãe é mãe do prefeito. Se essa pessoa é jogador de futebol, tal mãe é mãe do jogador de futebol. Se essa pessoa é padre, tal mãe é mãe do padre. Se essa pessoa é Deus, tal mãe é mãe de Deus.

Ora, Maria gerou aquele que é Deus.
Logo, Maria é mãe de Deus.

Há uma passagem bíblica que sugere que esse título foi aplicado a Maria por sua parenta Isabel, quando estava "cheia do Espírito Santo":
"Donde me vem que a mãe do meu Senhor me visite?" (Lc 1,43).
Se Isabel falou em aramaico, é possível que tenha dito a mãe do meu Javé, uma vez que o grego costuma traduzir o nome divino por Senhor (Kyrios).

A oração mais antiga à Virgem Maria (depois, é claro, da Ave Maria) chama-se Sub tuum presidium e já apresenta o antiquíssimo título de Mãe de Deus:
À vossa proteção recorremos,
Santa Mãe de Deus.
Não desprezeis nossas súplicas
em nossas necessidades.
Mas livrai-nos sempre de todos os perigos,
ó Virgem gloriosa e bendita.
O Concílio de Éfeso (431), pondo fim à controvérsia suscitada por Nestório, definiu solenemente que em Cristo há uma única pessoa (a pessoa divina), e não duas (como sustentava Nestório) e que Maria é verdadeiramente Mãe de Deus.

É bom começar o ano celebrando no dia 1º de janeiro a Solenidade de Maria Mãe de Deus.

Quero terminar com uma belíssima canção que fala sobre essa verdade de fé:

És Maria, a virgem que sabe ouvir
E acolher com fé a santa Palavra de Deus.
Dizes "sim" e logo te tornas mãe.
Dás à luz depois o Cristo que vem nos remir.
Virgem que sabe ouvir
O que o Senhor te diz,
Crendo geraste quem te criou,
ó Maria, tu és feliz.




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